O quarto já começava a apresentar um cheiro desagradável. E Benjamin também. Isolado dentro de seu quarto pelo quarto dia seguido, com as janelas e cortinas fechadas, os restos de alimentos espalhados pelo quarto e uma desordem que faria a inveja a qualquer xilitecniano tornava o ambiente uma sauna de mal estar.“
Ben, querido.” disse sua mãe através da porta do quarto que jazia trancada. “Eu trouxe seu jantar”
Já está de noite. Pensou Ben.“
Abre a porta, Ben.” sua mãe continuou “Eu e seu pai estamos preocupados contigo.”
Ele manteve-se em silêncio. Sentado na cama, abraçado com os joelhos dobrados e coberto por um edredon, a única luz do quarto era a da TV mantida ligada 24 por dia."
Ben, já faz quatro dias que você não sai desse quarto"
Você não entenderia... Ele pensou. Nenhum de vocês entenderia!
Ouve-se uma batida dupla de nós dos dedos na porta seguida de uma voz masculina.
"Benjamin, sou eu, teu pai. Abre essa porta."
“Vão embora” Ben disse quase cochichando.
“Vamos conversar, Ben” disse o pai “Já tentamos falar com teu avô mas ele não soube explicar o que aconteceu”
Ben olhou para o relógio em seu pulso esquerdo e sentiu suas mãos começarem um leve tremor.
“Vão embora!” ele gritou.
“Ben, só estamos preocupados com você, meu filho” disse a voz feminina.
“Me deixem em paz!” havia um certo desafino, típico de choro preso na garganta, na voz de Ben. “Só me deixem em paz!”
O garoto não era capaz de ver, mas sabia que provavelmente sua mãe teria abaixado a cabeça olhando para a comida em suas mãos e seu pai teria abraçado e apoiado seu queixo no topo da cabeça da esposa. Era a forma que ambos demonstravam preocupação e sensação de impotência para quem pudesse ver.
"Vou deixar sua comida aqui fora" disse a mãe.
"E quando estiver pronto pra conversar, saiba que estamos aqui“ continuou o pai.
Nem um pensamento de gratidão passou pela cabeça de Ben. Não tinha como passar, não tinha espaço numa mente envolta em medo e pânico. O jovem novamente olhou para o epicentro de seu sofrimento preso em seu pulso. Uma memória voltou a repercutir no turbilhão de sua mente: ”O Omnitrix é a arma mais poderosa do Universo”
E como toda arma, ela serve apenas para ferir.
Uma vibração sobre o colchão e um novo foco de luz surgia da tela do celular avisando da chegada de uma nova mensagem. Era a Gwen. Mais uma mensagem que se acumulava entre as 78 não lidas. 79 agora. 80. 81. Gwen e sua mania de fragmentar sua fala em várias mensagens menores. 82.
E então houve a explosão.